terça-feira, 20 de janeiro de 2015

VELORIO l


Fomos ao velorio de um jovem rapaz , eu o conhecia desde criança e assim de repente ele se foi.
A familia estava inconsolavel e nao era para menos, pois estamos acostumados a ideia que os velhos morrem primeiro, e muitas vezes nao nos conformamos  com o que a vida nos faz passar.
Embora o jovem falecido nao fosse praticamente de nenhuma religiao em especifico, muitas das pessoas presentes eram evange'licas , conhecidos de sua familia e que estavam ali prestando apoio moral , naquele momento  tao dificil.
Todos muito bem vestidos  com trajes sociais  e penteados, nao esquecendo dos elegantes oculos escuros , que ao meu ver e' para nao mostrar que os olhos nao choram . Funeral de 1º mundo.
Antes do termino do velorio, foi realizado um culto , onde palavras  de apoio, esperança e dignidade mesclavam-se a trechos citados na Biblia.
Aproximei-me para ouvir melhor o sermao .
Nao pude acreditar no que meus olhos viram.  A pessoa " iluminada'' com a Biblia aberta na cabeceira do caixao  que pregava com tanto fervor a palavra de Deus era um conhecido meu, que a muito tempo nao o via.
E esse sumiço tinha o seu  '' porque ''.  Anteriormente esse mesmo individuo fez uma grande compra de madeira no local onde trabalho, uma compra de grande valor.  Agora pergunto a voces que estao lendo,,,,,,,
----Voces pagaram esse carregamento de madeira levado por ele???
----Ele nao pagou e ainda desapareceu .
Fiquei completamente revoltado pela cara de pau daquele caloteiro , que compra , nao paga e sai por ai pregando aos quatro cantos do mundo a palavra divina.
Devido a situaçao do momento seria impossivel cobra-lo , em respeito ao morto,  e ele estava tao camuflado de boa ovelha que no final eu ainda sairia como errado.
Virei as costas e fui para fora da sala me encaminhando para uma padaria ao lado do cemiterio, pensando bem ou como sempre sem pensar , comi ali umas coxinhas enquanto me acalmava.
Mas como ja' dizia o velho ditado  ''Desgraça pouca e' bobagem '' ,a coxinha estava estragada e nem percebi.
Hoje  ate' consigo rir quando lembro, mas naquele tempo foi de amargar.  Fiquei com diarreia por longos e dolorosos 8 dias , resultado de uma infecçao intestinal, graças a coxinha que comi, graças ao caloteiro.
Foi uma verdadeira romaria a hospitais , sendo que em uma das consultas o diagnostico foi de colera (doença que estava na moda  naquele tempo ).  Que tormento!!!!  Chegava a ir no banheiro 10 vezes ao dia,  assaduras tomando conta de tudo.
O melhor papel higienico , daqueles de excelente marca, devido a minha lamentavel situaçao, tornaram-se lixas de aço.
Ardencia ! dor ! colicas ! e muita raiva.  Depois de idas e vindas  a varios  medicos, tive resultado positivo com a medicaçao e escapei da morte intestinal.
Ate' hoje minha presença  em velorios e' certa ,pois  sempre estou disposto  a dar  auxilio nestes momentos de tanta tristeza.  E assim que sarei, prometi a mim mesmo nunca mais comer qualquer salgado sem antes ter certeza da sua procedencia.
So' que isto foi a muito tempo atras,,,,,,,,, Ja' esqueci do desconforto daqueles dias tao dificeis.  E cada vez que  " sou obrigado " a ir a' r. 25 de Março com minha esposa, nao deixo de comer aquele churrasco grego , no meio daquela sujeirada, fumaça e do povao.






Ilustraçao  de Renato Brito Gaioti

EXPLICAÇOES NECESSARIAS


Ninguem cria nada novo, na verdade vamos pescando coisas , ideias aqui e ali , ao longo de nossa vida, formando uma vivencia unica.
Esta obra ,embora rudimentar por falta de  nivel cultural e' um desabafo do que vivi desde criança ate' a fase adulta, depois fui aprendendo a contornar o que nao me interessava.
Nao perdoei nem desculpei quem me afringiu , minhas emoçoes ficaram enterradas e nao verbalizei tudo o que considerei como negativo na minha vida.
Recheei a mente de teorias e ideias inacessiveis  , a boca sempre tinha admiraveis frases de elogios quando queria impressionar as pessoas , muitas vezes eram desafetos ou de pouca importancia para mim.  Muitas vezes deixei de viver ,por idealizar um futuro ilusorio.
Aprendi que sou so' no mundo. Construi e prossegui.  Fiz a cada instante um novo capitulo  , ora comico, ora decepcionante , e so' tive como referencia as minhas proprias atitudes.
Enfim nao se pode agradar a todos, mas uma coisa e' certa, ao tomarmos decisoes , ou paramos diante da critica e começamos tudo de novo para agradar a terceiros,  ou nao ligamos para a aprovaçao alheia e seguimos em frente doa a quem doer.
E' impossivel contentar a todos , sempre havera' alguem que fara uso da ironia e de expressoes de duplo sentido.  E  ha' os que olham com facilidade os  defeitos alheios, mas raramente se servem deles para corrigir  os seus.

                                                                                                                            ELIRIA

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O CORTE DE CABELO


Relembrando minha infancia desastrada  houve um dia em que minha mae ordenou : ZE' !!!!!!!!va'  ate' o barbeiro  e corta o cabelo modelo topetinho. Eu odiava esse corte, a cabeça ficava raspada e aquele pequeno montinho caido na testa , ridiculo , so' para demorar para crescer .
Com alguns trocados na mao, caminhei naquele sol quente ate' a barbearia que era na outra rua.
O corte que me foi ordenado por minha mae nao me agradou e por meu azar escolhi  outro modelo.  Completamente sem noçao de perigo,  e tambem por me dar tanta responsabilidade, enfim fui.
La' chegando ,  o lugar pequeno estava lotado, esperei a manha toda a minha vez, e ficava so' pensando com meus botoes, ele deve estar podre de rico, pois e' o unico na vila e muita gente pra cortar o cabelo.
Esse barbeiro ; como ja' diz o nome, cortava muito mal   Naquele tempo nao existiam escolas especializadas em cortes e modelos  entao aparecia um bicudo metido a cabelereiro , e  a periferia nao tinha escolhas e nos submetiamos   aquela maquininha manual infernal.
Este instrumento era um verdadeiro suplicio de derramar lagrimas e o profissional  (barbeiro)  nao levava a peça para afiar e quando passava pelos cabelos, ia mascando e puxando  muito, MUITO.!!!!!!!!
Depois de muitas horas esperando  naquele salaozinho apertado e  abafado meu cabelo foi mascado, e com os olhos marejados mas do jeito que escolhi voltei para casa, ja' estava na hora do almoço.
Minha mae ao me ver admirou-se da minha atitude independente e perguntou franzindo a testa;;
Que corte e' esse ZE' ????????
Respondi  todo garbozo  ,,,,,,,,,,  Mudei o corte.
Em contra partida senti a mao de minha mae segurar forte minha orelha e me arrastando pela rua chegamos na barbearia outra vez.
De novo foi dada a ordem;;;;;;; corte tudo e so' deixe  o topetinho.
Virando as costas minha mae foi embora ,e fiquei ali constrangido com a orelha vermelha ardendo.
 Acabei o resto da tarde ali  , com fome, ate' chegar novamente minha vez.
Eu admito que nesse tempo nao tinha autoridade necessaria para enfrentar e defender minhas ideias e gostos.  Hoje sou  meia idade ,mas jovao   ,uso meu cabelo comprido ,corte sempre moderno e mesmo que minha mae me diga  ,,,,corta esse cabelo Ze' eu nem dou ouvidos e so' faço o que quero.
                                                                                                                     

                                                                                                                           ELIRIA

                  arte /ilustraçao de Renato Gaioti                                                 





terça-feira, 6 de janeiro de 2015

VER AS COISAS COMO REALMENTE SAO

                                          Engano 1
 Sempre ouvi dizer que as cigarras de tao alto que cantavam acabavam  estourando.
Eu mesmo cheguei a encontrar a casca desse inseto agarrado no tronco de uma arvore.  Com o passar do tempo uma pessoa me disse que eu estava redondamente enganado e que as cigarras cantavam para atrair outro inseto do sexo oposto.  A casca no tronco era a troca de forma para um tamanho maior, como as cobras.  Que vergonha senti.
 E por falar em cobras leia mais essa:

                                            Engano 2
Sempre fui temeroso quanto ao assunto em nadar ou apenas andar dentro de rios rasos.
O temor seria sobre ter cobras venenosas na agua, mas nesse caso eu acreditava desde pequeno , ensinado nao sei por quem , que as cobras d'agua deixavam o veneno nas folhas da vegetaçao nas margens do rio.
Inocencia ou burrice?  (minha )
 Ja' adulto comentei o fato com uma pessoa conhecida e esta me fez as seguintes perguntas para que eu pudesse refletir  :

Se a cobra tira o veneno para entrar na agua , como ela o pega de novo?
opçao  A- chupando com o canudinho
            B- aspirando pelos dentes

Como a cobra vai achar a folha onde deixou o veneno ,no meio de tanta vegetaçao?
Desta vez sem opçao.
Ja' pensou se nesse meio tempo eu tivesse dado de frente com uma cobra d'agua,  pensando que ela  nao tivesse veneno.
Nao  faça graça, eu acreditava mesmo.

                                           Engano 3
E o pepino?
Antigamente esse vegetal era tido como venenoso; principalmente nas pontas.  Como seria possivel ter veneno nas pontas?
Na verdade a culpa foi minha por apenas acreditar e vendo  as pessoas esfregando a ponta cortada no restante do pepino.  Quando casei minha esposa nao fez esse ritual e ainda lhe passei um sermao por tentar me envenenar com o pepino  .E' hilario pois hoje se faz sucos , cremes , saladas, sem ao menos retirar as cascas.
Nao fui um bom observador, fui um iludido buscando a verdade,  muito revoltado, reclamando consideraçao e orientaçao


OLHANDO PARA TRA'S



Esse caso e' curioso e se trata de uma aventura de adolescentes.
Saimos em turma, como e' de costume aos jovens para se afirmar com segurança na sociedade, e quando vemos um adolescente sozinho ja' imaginamos um ser diferente, ou muito timido ou detesta sair em bandos que nem ciganos.
Fomos para Sao Caetano do Sul que era antigamente o bairro mais elegante do ABC.
La' nesse bairro tinha um parque onde todos iam para passear,  namorar ou simplesmente sentar nos bancos embaixo das arvores frondozas.
Resolvemos que iriamos para la', pois estando em  bando e' mais facil para o adolescente se expressar  frente ao sexo oposto.
Como estavamos longe do local   resolvemos pegar o onibus e pra nossa sorte o cobrador era nosso conhecido, deixando que no's pulassemos a catraca.
 Dinheirinho economizado, sobrando para o sorvete.. Nos' eramos tao inocentes, imagina hoje falar para nosso  filho ir na praça  ver as garotas e poder pagar um sorvete para os dois, e' gargalhada na certa, e ainda nos dizem que estamos por fora, cafonas e outros adjetivos  depreciativos  .Chegando la', espalhamo-nos em duplas e por sorte ja' encontramos duas meninas que pareciam estar sem companhia.
 Meio sem graça, e envergonhado  pela falta de experiencia, mal conseguia pegar na mao da menina.
Bom de papo, tentando convence-la de uma paixao repentina .   Papo vai papo vem, mais mentiras que fatos.
De repente vi um de meus amigos passar por mim em louca desembalada corrida, me olhando assustado e gritando,,,,,,, CORRE!!!!!!!
Nao entendi  , perguntando a mim mesmo porque ele estava indo embora e tao depressa.?
Sera que havia algum significado por tra's de tudo isso ?
Qual o motivo  para tal comportamento ?
Justo agora que depois de horas eu ja' estava começando a me entrosar com a menina.
Nisso, escutei um tropel atras de mim, me virei e vi que vinham varios rapazes mal encarados e pareciam que as intençoes deles nao era das melhores.
Meu celebro num tranco começou a funcionar e por precauçao ou medo de apanhar larguei a mao da menina e corri tambem,,,, tanto que sentia meus pes' bater nas costas.
Ja' a salvo com meu amigo e longe dali ,quando recuperei o folego , fiquei sabendo que eram os irmaos de uma das garotas e naquele tempo quem nao assumia ,,,,,,,, apanhava.
O caso acima mencionado e' bastante interessante  por causa da minha  ingenua esperteza  ,nos tempos de hoje nao existe mais a moralidade de antes , namora cada dia com uma e as partes envolvidas nao se importam mais. Namoro , noivado,  e casamento dizem que esta passado , ninguem dura juntos por mais de 5 anos   casados, por pura falta de paciencia.

A ABELHA


Minha infancia foi muito tumultuada de fatos comicos para quem estava de fora  como voce que esta lendo agora , mas nos que  e'ramos  muito pobres tudo parecia muito  dificil.
Tinhamos pouco ou guase nada  de comida em casa e as ocasioes de um doce ou guarana eram raras.
Quando meu pai recebia o salario de valor minimo ,para sustentar   tanta gente em casa e mais algum parente folgado que sempre dava o ar da graça na hora da comida  , mas era bom para mim assim mesmo.  Sempre da' a impressao que eu vivia morrendo de fome.
Podiamos comprar um doce ou um guarana  que vinha em uma garrafa de vidro, entao eu fazia um furo bem pequeno na tampinha de lata e ficava chupando a garrafa o dia inteiro, que delicia mesmo morno, pois geladeira so' para os ricos.
Nesse dia de festa, fui ao armazem da vila para comprar aquele tao sonhado drops Dulcora sabor unico de hortela .   Vim com meu trofeu do mes ( o drops ) na mao e chegando em casa  me escondi atras da casa para que uma das minhas irmas nao pedisse.
Desembrulhei  devagar o primeiro drops, com a boca cheia de agua , sonhando com o sabor e nessa bobeira toda nao vi que  uma abelha tinha pousado na bala que estava em meus dedos,  pus a bala na boca com abelha e tudo , sentindo  em seguida nao o sabor delicioso   mas uma ferroada na lingua,   Cuspi a bala e a abelha ,pisoteando-a em seguida.   Puxa  !!!!!!!!!!!!! parece que todos me perseguem.   Essa ficou nas historias de dor, pois a lingua inchou muito e tive que esconder o resto do drops  para out.ro dia .
Hoje ja' estou de idade e nem gosto de balas , mas se voltasse no tempo a cada bala desembrulhada olharia ao meu redor para me precaver de outra ferroada.







                                                                                            ELIRIA

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

TRANSFORMANDO CARENCIAS EM DOAÇOES



Como era bom quando minha mae nos preparava para receber visitas, a casa com flores, bastante comida e bebidas , mesa  posta com guardanapos bordados e louça fina.
Tudo perfeito, so' nos sonhos, pois minha familia muito pobre mal tinhamos  uma comida decente.
E a conversa depois do misero jantar era sempre  velhos assuntos de familia ,muitos comentarios inuteis  todas as noites sem televisao era a unica opçao.
Ainda me lembro ate' hoje da frase  antiga usada como um documento,,,,
'"para um bom entendedor meia palavra basta""
Hoje nao acredito nessas palavras tao antigas e mesmo assinando documentos as vezes ficamos no prejuizo por conta de pessoas sem escrupulos .
Qualquer experiencia de vida por mais desagradavel que tenha sido e' possivel nos trazer sempre uma boa  liçao  e hoje sou um bom observador e  nunca mais esqueci um episodio, muito marcante  na minha infancia.
Quando meu pai recebia no fim do mes  o misero salario,tinhamos alguma regalia durante um dia inteiro.
Essa ocasiao era a mais feliz para mim. E no meio da pequena despeza feita uma vez no mes vimos uma lata de goiabada.  A promessa e' que depois do jantar  ( arroz + feijao )  isso quer dizer pouco comeriamos todos juntos.
Escureceu, jantamos e esperamos ansiosos o tal doce da lata redonda , nem sei se ainda existe.
Escutei palmas.  Era meu tio , irmao  mais novo  do  meu pai , ele estava acompanhado da namorada.
Pensei ,,,,,justo agora que vamos comer o doce chega essas visitas ,sera que vai dar para repartir com todos???????.
Apos muitas horas de conversa fiada ,aguentamos firmes  pois nao queriamos dormir sem comer o doce e minha mae sem ter o que oferecer abriu a lata do doce.
Meu tio  querendo fazer graça  para a namorada nova, apostou que ela nao aguentaria  comer o doce sozinha  , e ela como boa baiana  que e' pegou o garfo  a faca e para nosso espanto e tristeza acabou com o doce ( sozinha)
Meu tio meio sem graça, nos prometeu outra lata de doce e ficamos nos', 4 crianças pequenas a esperar pelo doce que ate' hoje nao veio.
Nos tempos atuais sou tido como exagerado porque compro tudo de montao, principalmente comida, talvez para compensar aquela noite tao fatidica.
Mas esse fato se repetiu, somente trocando as pessoas da cena.
Depois  que as visitas se foram meu pai se sentiu culpado por nao ter defendido o unico doce que teriamos no mes e prometeu que na proxima despeza compraria outra lata de goiabada.                                                                                                    
Como este mes demorou a passar , e no dia tao esperado meus pais foram na vendinha  da vila para fazer a tal despeza e levaram minha irma mais nova que eu. La' chegando minha irma emburrou porque queria  um par de tamancos.   Meu pai ficou numa encruzilhada.,,,,,,, os tamancos ou a lata de doce pois  nao dava pra comprar os dois.   Advinham o que eles trouxeram para casa?  OS TAMANCOS.
Fiquei tao disiludido quando nao vi o doce  dentro da sacola, e nunca mais esqueci.
Hoje  compro esse doce aos montes  em qualquer ocasiao, mas nao tenho mais aquela vontade de comer.
Quando somos crianças tudo e' tao diferente,  mesmo quando as coisas nao saem como  queremos,  tudo parece bom, sem culpa,  sem responsabilidade , saber que nossos pais  vao resolver qualquer  situaçao que surja , poder dormir sem pensar no que faremos  amanha.

                                                                                                              ELIRIA
                                               









                                                                     

sábado, 3 de janeiro de 2015

A MANGA

                                                           


Sobre esse interessante relato, tudo me leva a  acreditar que so' morremos quando chega  mesmo a nossa hora.
Levantei cedo, bem disposto , o sol ja' alto  e ardido, coloquei minha roupa social e fui na feira como faço todos os domingos e comprei muitas mangas que eram as  frutas da epoca, nao tao cheirosas como as que apanhavamos  na fazenda do meio tio.
Apos o almoço , ainda sobrava  muito espaço  no bucho , resolvi descansar  e comer uma manga na sacada  onde havia uma rede.  Peguei a manga maior na fruteira e  uma faca para corta-la. Deitei na rede e comecei a descasca-la, cortando em seguida pelo meio.  Coloquei essa metade rapidamente na boca. Na posiçao horizontal  em que me encontrava e na gula  tentei engolir o pedaço  sem mastigar  e esta bendita escorregou pela minha garganta  sufocando-me.
*Com base nos fatos apresentados , e' possivel afirmar sem temer erros que fiz burrada e num pulo me coloquei de pe', engasgado, tentando engolir ou colocar fora o pedaçao da manga.   Fiz ainda uns gestos desesperados para que minha esposa me ajudasse batendo nas costas, mas ela pensou que eu estivesse brincando e nem me deu atençao.
Ja' estava  mudando de cor quando consequi cuspir o pedaço da manga.
Esse tempo que me pareceu  uma eternidade chegando a ver a luz no final do tunel , mas  nao passou de alguns segundos, meu terror foi tanto que mal conseguia falar , os olhos lacrimejando , as veias do pescoço estufadas,  ufa  , que sufoco.
Neste dia perdi a vontade de comer  manga e nem me deitei mais na rede.
Talvez se fosse  um cacho de uva  nao teria me engasgado, mas pensando bem sera que  eu teria paciencia para comer uma apos uma, desnecessario dizer que nao pretendo parar de comer mangas mas o faço sempre em pe' e cortada em pequenos cubos.

                                                                                                                      ELIRIA
                                                           
                                 

O SAPATO

                                         






Sempre foi meu sonho ter uma chuteira dessas iguais as dos jogadores de futebol e como pareciam ser tao macias e rapidas quando estavam nos pe's dos atletas.
Ja' nao era tao pequeno e nos pe's usava aquelas horriveis alpargatas de lona, com sola de corda.  No começo eram ate' confortaveis, de cor marrom ou azul,  mas com o passar do tempo a sola ia achatando e formando bigodes nas laterais que eram aparadas de vez em quando  com uma faca e ficava tudo mascado. As vezes tambem furava na regiao do dedao , e que so' usava para ir a' escola , no mais andava descalço pelo quintal de terra da minha casa , calçado so' comprava uma vez por ano , quando dava.
Um dia minha mae  com muito esforço consequiu o suficiente para comprar um par de sapatos e coube a mim a responsabilidade de ir ate' o sapateiro (naquele tempo nao havia lojas de sapatos  onde eu morava e tinhamos que fazer quase que uma viagem ate' Sao Paulo  para comprar roupas e sapatos ). 
Pensei,,,,   agora vou para a escola de sapato, igual aos outros meninos.
Fui sozinho ( que perigo , tambem dar tanta  responsabilidade a' uma criança)  e la' chegando olhei tudo e me encantei com um par de chuteiras  ,na sola tinha cravos de metal.  E como sempre  nao pensei em nada  e comprei    .Orgulhoso voltei para casa ja' calçado com elas.
Minha mae como sempre nao gostou da minha ideia, mas desta vez nao apanhei e fui obrigado a ir para a escola de chuteiras,  imaginem  se nao fui a piada  dos outros alunos e ainda mais porque faziam muito barulho ao andar no asfalto.
E pior da historia  ,,,,, aquelas chuteiras por ser de couro duro nao eram confortaveis nem macias como eu imaginava.
Mas esse erro foi necessario para que eu pudesse avançar e crescer e tambem dar valor ao pouco recurso material que minha familia dispunha naquela epoca.

                                                                                                                    ELIRIA      




                                                                                                        


                                                                        

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A LAGOA

                                             
                                 


Existem varias maneiras de tomar um banho. Desde um simples banho de balde pendurado nos caibros do telhado ou um banho teurapeutico dentro de um rio.
Na  minha infancia, um jeito de tomar banho e se divertir era num rio perto de casa  , meio vazio.
As arvores que beiravam o rio  serviam de trampolim para pularmos na agua que naquele tempo nao eram  poluidas como as de hoje.
E por falar em banho, o que mais marcou minhas lembranças na infancia, foi um dia depois de forte chuva, fomos para la',eu e alguns amiguinhos da rua em que morava.
Minha mae pensava que eu estivesse  no campinho jogando bola, entao era a oportinidade de ir ao rio.    La' chegando, antes de entrar nas aguas barrentas, escondia no meio das folhagens toda nossa roupa e pulava pelado no rio.
As roupas nao podiam sujar ou molhar, senao seriamos pegos na mentira e para chegar em casa com as roupas sujas , molhadas ou simplesmente sem elas seria surra na certa . Outro contratempo para atrapalhar eram os meninos de outra rua que vinham para brincar e se descuidasse levavam embora nossas poucas roupas.
\Mas no final tudo dava certo.
Nos eramos autenticos e corajosos,  tinhamos uma alegria espontanea apesar de todos os apertos que passavamos.
Coisas assim nao tem preço que pague, e  era necessario muita coragem para assumir as consequencias de nossas açoes.

                                                                                       

                                                                                                            ELIRIA


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

TEMPO CERTO

                                 
               

Quando fiquei jovem, gostava de nos finais de semana sair por ai com meus amigos.
Como a situaçao ainda era dificil saiamos de onibus, pois naquela epoca quem tinha um carro ou uma tv era considerado na vila como rico.
Nessas saidas, perdemos a hora de voltar para casa e quando olhamos para o relogio da matriz de Rudge Ramos os ponteiros estavam se encontrando e batendo meia noite.
Por sorte vimos que o ultimo onibus se aproximava, estendemos o braço   dando o sinal.
Jovens sao folgados, distraidos, irresponsaveis  e em turmas sao piores. As vezes encontramos  alguns  certinhos,mas a razao e' porque sao timidos.
Começamos a fazer cera para entrar, e o motorista ja' cansado, desejando chegar ao final do trajeto para poder descansar , sem paciencia para suportar aquela turma descansada,fechou a porta justamente na hora em que o ultimo  ia entrar ( eu).
Fiquei para o lado  de fora com  o braço preso na porta.  O motorista  arrancou com o veiculo e a unica saida que me ocorreu no momento foi correr pelo lado de fora para nao ser arrastado,,,,,,, e como corri, embora o trajeto nao passou de uma volta em torno da igreja  . A minha sorte  foi justamente esta volta indo em direçao a uma descida , como nao existiam farois  , placas de velocidade, radar  ,eu estaria perdido. E a minha turma nem deu por fe' que eu estivesse do lado de fora do onibus.  (grandes amigos ).
Acalmem -se  ,,,,,,,, o motorista  pelo retrovisor me viu e brecou o onibus, pois se dependesse do bando que  estava comigo eu chegaria ao meu destino em pedaços.
Para mim foi muito cansativo e assustador essa peripesia  ,mas algumas pessoas  que passavam me observava  rindo sem entender o porque daquela desembalada corrida , foi muito comico (para eles ).
Mas consequi chegar em casa ,sao e salvo  entrei quietinho para que minha mae nao me visse chegando aquela hora, ainda a tempo de assistir ao segundo tempo do jogo do meu time.
Sentei  rapido no sofa' , e minhas irmas que dormiam na sala estavam naquele momento arrumando a cama delas. O jogo estava no final , o juiz  apitou para o jogador do meu time fazer a cobrança, que emoçao , me preparei para gritar e nesse  momento  minha irma levantou o lençol encobrindo a televisao,  NAO VI O GOL   e nesse tempo nao havia o recurso do replay.
Depois de tanto sofrimento ainda fui dormir com essa e nao pude nem reclamar pra minha mae .

                                                                                                              ELIRIA
   
















                                                                                                   

SACUDIR A POEIRA

                               



Ninguem escolhe ter um temperamento complicado intencionalmente.
Como aprender quando se e' jovem, a ¨olhar¨ o obvio e ter o instinto de saber quando vamos nos dar mal.  E' interessante notar que aprendemos a escrever, falar e ler, mas nao nos ensinam como nao errar.  Nunca me preocupei com que os outros pensavam de mim, e minha visao sobre a vida estava disforme pois a realidade e' bem outra.
Bom, vamos parar de devaneios e contar os fatos como aconteceram.   Coloquei minha melhor roupa  e  fui para Santo Andre e na volta  como de costume voltei de onibus.
  O tempo estava quente, e  as ruas de terra  levantava uma poeira  fina   de cor amarelada  na passagem dos carros.
Dentro do onibus lotado, observei que na troca de horario do cobrador , ele descia pela porta da frente  ,o motorista diminuia a velocidade  e o cobrador pulava sem o veiculo parar.
Ai pensei,,,,,,,puxa que legal,  vou fazer o mesmo quando descer.
Chegando perto do ponto onde eu deveria descer, dei o sinal e o onibus foi diminuindo  a velocidade,  saltei para fora ,sem esperar o onibus parar.  Do jeito que o cobrador fez.
Que erro,,,,,,, eu teria que pular de lado e sair correndo para compensar a velocidade que o onibus estava .
No pulo cai e sai rolando pelo chao no meio da poeira .Levantei meio sem jeito,com vergonha da burrice ja'feita e pior;  o motorista parou o onibus para ver se eu estava bem.
Quando olhei nas vidraças empoeiradas do onibus lotado, tinha ate' gente com a cabeça para fora dando risada da palhaçada.
Bati a poeira da roupa, e fiz um sinal  para o motorista  ,com o polegar de positivo, virei as costas e andei em direçao contraria ao onibus . Chegando em casa ja' entrei de cara feia para ninguem  perguntar do cabelo e das roupas sujas de terra.
Cada um tem experiencias,capacidades, qualidades, sentimentos proprios,defeitos e fraquezas.
Hoje em dia nao viajo mais de onibus e percebo que o unico fracasso que temos e' aquele com o qual nada aprendemos.
A vida e' uma sequencia de conflitos. Quanto maior for a nossa adaptaçao ,mais chance teremos de acertar.

                                                                                                                  ELIRIA



Ilustraçao  de Renato Brito Gaioti














Ouro Preto ( reeleitura de Celso Castro)